Mandado construir em 1677 por uma senhora da alta nobreza, D. Luisa de Távora, que nele tem a sua sepultura, destinava-se ao recolhimento de 21 Religiosas Professas Carmelitas Descalças - a Ordem de Santa Teresa de Ávila - que recomendava austeridade e impunha voto de pobreza.
Foi construído numa época em que Portugal não só se encontrava bastante isolado da Europa (37 anos após a Restauração da Independência) e atravessava um período de contenção económica, como, na sequência do Concílio de Trento, a Igreja recomendava uma maior simplicidade na construção dos edifícios religiosos.
Em Portugal, os arquitectos de Seiscentos adaptaram a arquitectura maneirista aos gostos nacionais, dando-lhe progressivamente uma expressão mais popular e regional, ao mesmo tempo que assimilaram um ou outro elemento barroco, principalmente no que respeita aos ornamentos (molduras de portas, enquadramento de nichos, uso de brasões heráldicos, utilização de colunas torsas). Também usaram materiais de artesanato local, sobretudo no exterior de igrejas paroquiais e conventos. Este estilo chão é designado pelos nossos historiadores de arte por "barroco português".
Bata à porta encimada por uma pequena imagem de São José. É a porta do locutório do Convento que, com a roda, eram antigamente as únicas ligações ao mundo exterior. Quando entrar na Igreja, terá uma nova surpresa: impressiona a decoração que procura preencher os espaços com azulejos, pintura, escultura, mármores, abóbadas ornamentadas e pintadas com frescos, sendo a talha dourada o elemento principal e aglutinador, como se este deslumbramento interior quisesse resgatar a sobriedade exterior.
A planta da igreja compõe-se de nave única rectangular e da capela-mor que, devido à sua profundidade mais se assemelha a um cruzeiro. Mas o espaço é o mesmo, unificado por uma abóbada de berço assente sobre uma cornija. Como seria de esperar, no que respeita à sua arquitectura e decoração, o convento é muito mais simples do que a igreja. Não só havia que economizar, como a própria regra exigia simplicidade e contenção, o que não obsta a que houvesse o maior cuidado na sua execução. Os lambris de azulejos azuis contrastando com as paredes brancas, com o chão de simples tijoleira de barro vermelho e com as cantarias e madeiras das portas e janelas, tudo concorre para criar um ambiente de extraordinária harmonia e serenidade.>>> >>> Em todo o percurso feito, quer nas várias dependências do convento, quer nos claustros, sente-se um quotidiano de paz, trabalho e oração.
A terceira agradável surpresa, com que também nos deparamos neste convento, é o facto de ele ter chegado aos nossos dias na sua integridade original, ao contrário do que aconteceu na maior parte dos outros conventos em Portugal. Porquê?
Depois da extinção das Ordens Religiosas, em 1834, quase todos os conventos do país foram fechados e as suas instalações utilizadas para as mais diversas ocupações: desde quartéis a hospitais, escolas, cadeias e até (pasme-se!) celeiros e estábulos. Para se adaptarem às suas novas funções alguns foram irremediavelmente adulterados e estragados.
No Convento dos Cardaes, as freiras foram autorizadas a permanecer até à morte da última, não podendo obviamente, entretanto, entrar mais nenhuma. A última carmelita do Convento morreu em 1876, com 78 anos de idade e 59 de clausura. Mas logo em 1877, um grupo de senhoras da nossa melhor sociedade, que fundara uma associação particular de beneficiência - Nossa Senhora Consoladora dos Aflitos - foi autorizada a tomar posse do edifício, com a cerca, a igreja e os seus pertences, para aí instalar um asilo de cegas desvalidas. Fizeram algumas obras de restauro e, em 1878, já lá estavam as primeiras cegas. Esta associação ainda hoje se mantem na direcção da instituição.
Texto: Teresa Pinto Leite
Uma relíquia arquitectónica no Bairro Alto, já que sobreviveu ao terramoto de 1755 e é hoje uma das poucas estruturas pré-pombalinas na cidade. Guarda lá dentro um belíssimo acervo de arte sacra conservado ao longo dos anos pelas Carmelitas Descalças, para quem o edifício do séc. XVII foi construído. O exterior é sóbrio e o interior, um tesouro. Merece a sua visita.
2014-06-11
Mandado construir em 1677 por uma senhora da alta nobreza, D. Luisa de Távora, que nele tem a sua sepultura, destinava-se ao recolhimento de 21 Religiosas Professas Carmelitas Descalças - a Ordem de Santa Teresa de Ávila - que recomendava austeridade e impunha voto de pobreza.
Foi construído numa época em que Portugal não só se encontrava bastante isolado da Europa (37 anos após a Restauração da Independência) e atravessava um período de contenção económica, como, na sequência do Concílio de Trento, a Igreja recomendava uma maior simplicidade na construção dos edifícios religiosos.
Em Portugal, os arquitectos de Seiscentos adaptaram a arquitectura maneirista aos gostos nacionais, dando-lhe progressivamente uma expressão mais popular e regional, ao mesmo tempo que assimilaram um ou outro elemento barroco, principalmente no que respeita aos ornamentos (molduras de portas, enquadramento de nichos, uso de brasões heráldicos, utilização de colunas torsas). Também usaram materiais de artesanato local, sobretudo no exterior de igrejas paroquiais e conventos. Este estilo chão é designado pelos nossos historiadores de arte por "barroco português".
Bata à porta encimada por uma pequena imagem de São José. É a porta do locutório do Convento que, com a roda, eram antigamente as únicas ligações ao mundo exterior. Quando entrar na Igreja, terá uma nova surpresa: impressiona a decoração que procura preencher os espaços com azulejos, pintura, escultura, mármores, abóbadas ornamentadas e pintadas com frescos, sendo a talha dourada o elemento principal e aglutinador, como se este deslumbramento interior quisesse resgatar a sobriedade exterior.
A planta da igreja compõe-se de nave única rectangular e da capela-mor que, devido à sua profundidade mais se assemelha a um cruzeiro. Mas o espaço é o mesmo, unificado por uma abóbada de berço assente sobre uma cornija. Como seria de esperar, no que respeita à sua arquitectura e decoração, o convento é muito mais simples do que a igreja. Não só havia que economizar, como a própria regra exigia simplicidade e contenção, o que não obsta a que houvesse o maior cuidado na sua execução. Os lambris de azulejos azuis contrastando com as paredes brancas, com o chão de simples tijoleira de barro vermelho e com as cantarias e madeiras das portas e janelas, tudo concorre para criar um ambiente de extraordinária harmonia e serenidade.>>> >>> Em todo o percurso feito, quer nas várias dependências do convento, quer nos claustros, sente-se um quotidiano de paz, trabalho e oração.
A terceira agradável surpresa, com que também nos deparamos neste convento, é o facto de ele ter chegado aos nossos dias na sua integridade original, ao contrário do que aconteceu na maior parte dos outros conventos em Portugal. Porquê?
Depois da extinção das Ordens Religiosas, em 1834, quase todos os conventos do país foram fechados e as suas instalações utilizadas para as mais diversas ocupações: desde quartéis a hospitais, escolas, cadeias e até (pasme-se!) celeiros e estábulos. Para se adaptarem às suas novas funções alguns foram irremediavelmente adulterados e estragados.
No Convento dos Cardaes, as freiras foram autorizadas a permanecer até à morte da última, não podendo obviamente, entretanto, entrar mais nenhuma. A última carmelita do Convento morreu em 1876, com 78 anos de idade e 59 de clausura. Mas logo em 1877, um grupo de senhoras da nossa melhor sociedade, que fundara uma associação particular de beneficiência - Nossa Senhora Consoladora dos Aflitos - foi autorizada a tomar posse do edifício, com a cerca, a igreja e os seus pertences, para aí instalar um asilo de cegas desvalidas. Fizeram algumas obras de restauro e, em 1878, já lá estavam as primeiras cegas. Esta associação ainda hoje se mantem na direcção da instituição.
Texto: Teresa Pinto Leite
Uma relíquia arquitectónica no Bairro Alto, já que sobreviveu ao terramoto de 1755 e é hoje uma das poucas estruturas pré-pombalinas na cidade. Guarda lá dentro um belíssimo acervo de arte sacra conservado ao longo dos anos pelas Carmelitas Descalças, para quem o edifício do séc. XVII foi construído. O exterior é sóbrio e o interior, um tesouro. Merece a sua visita.
2014-06-11