Naquela que é chamada pelos lisboetas «a rua dos eléctricos» - Rua de São Paulo - quase que passa despercebida a entrada para o Ascensor da Bica. De um aparente edifício amarelo condizente com os carros da Carris e de traça mantida original, eis que surge uma porta que nos transporta magicamente para uma outra Lisboa. A do Bairro Alto, repleta de vida e onde o cunho mais tradicional dos bairros típicos se mistura com a contemporaneidade de uma capital europeia.
Uma Lisboa a que o realizador alemão Wim Wenders não passou ao lado. O Ascensor da Bica aparece na sua longa-metragem Lisbon Story, de 1995, ficando assim imortalizado no grande ecrã. Mas não só. Tal como os outros ascensores e elevador lisboetas, também o da Bica está classificado como monumento nacional desde 2002. Visitado diariamente por dezenas de turistas, é pelos alfacinhas que continua a ser utilizado maioritariamente. E já lá vão quase 120 anos desde que os lisboetas foram brindados com este «amarelinho», imprescindível e amigo do ambiente, construído à imagem e semelhança dos ascensores da Glória e do Lavra.
Apesar de os carros eléctricos estarem hoje sob apertada vigilância técnica, em tempos os percalços foram mais que muitos. Em 1916, por exemplo, estava perto do fim o assentamento de um dos veículos sobre os carris, quando os travões falharam, atirando o carro calçada abaixo desde o Calhariz até à Rua de São Paulo. Felizmente não houve vítimas, excepto o «amarelinho» que se desfez em pedaços.
Mas o susto foi tão grande que durante vários anos o Ascensor da Bica esteve parado. Só em 1927, depois de entregue à Carris, voltou a percorrer a íngreme calçada, mas desta vez com um sistema mais seguro e novos veículos. Os bancos eram transversais e divididos em três compartimentos. Eram 10 os passageiros que viajavam sentados em género de plateia e seis de pé na retaguarda.
Hoje, com toda a segurança e conforto, pode subir-se e descer-se a calçada desde as sete da manhã até às nove da noite. Antes de subir, passeie-se pelas cores e odores do mercado da Ribeira, onde as floristas e peixeiras mostram o expoente máximo da tradição alfacinha. Uma vez cá em cima, e principalmente se o sol se estiver a pôr, é obrigatória uma paragem no miradouro de Santa Catarina, onde as esplanadas se deitam sobre um Tejo imenso. A seguir, o Bairro Alto convida a jantar num dos seus muitos restaurantes e a noite espera-o cheia de uma vida que mistura os mais diversos estilos e tendências.
Com uma nesga de Tejo ao fundo, cruzam-se para cima e para baixo os dois carros amarelos que ligam a Rua de São Paulo ao Largo do Calhariz. Ambos compõem o ascensor da Bica que salva qualquer um da dolorosa caminhada pela calçada íngreme e cheia de degraus em pedras toscas. Lá em baixo, «a rua dos eléctricos» que nos leva perto do rio. Cá em cima, a vida única que só o Bairro Alto pode oferecer.
2013-10-25
Naquela que é chamada pelos lisboetas «a rua dos eléctricos» - Rua de São Paulo - quase que passa despercebida a entrada para o Ascensor da Bica. De um aparente edifício amarelo condizente com os carros da Carris e de traça mantida original, eis que surge uma porta que nos transporta magicamente para uma outra Lisboa. A do Bairro Alto, repleta de vida e onde o cunho mais tradicional dos bairros típicos se mistura com a contemporaneidade de uma capital europeia.
Uma Lisboa a que o realizador alemão Wim Wenders não passou ao lado. O Ascensor da Bica aparece na sua longa-metragem Lisbon Story, de 1995, ficando assim imortalizado no grande ecrã. Mas não só. Tal como os outros ascensores e elevador lisboetas, também o da Bica está classificado como monumento nacional desde 2002. Visitado diariamente por dezenas de turistas, é pelos alfacinhas que continua a ser utilizado maioritariamente. E já lá vão quase 120 anos desde que os lisboetas foram brindados com este «amarelinho», imprescindível e amigo do ambiente, construído à imagem e semelhança dos ascensores da Glória e do Lavra.
Apesar de os carros eléctricos estarem hoje sob apertada vigilância técnica, em tempos os percalços foram mais que muitos. Em 1916, por exemplo, estava perto do fim o assentamento de um dos veículos sobre os carris, quando os travões falharam, atirando o carro calçada abaixo desde o Calhariz até à Rua de São Paulo. Felizmente não houve vítimas, excepto o «amarelinho» que se desfez em pedaços.
Mas o susto foi tão grande que durante vários anos o Ascensor da Bica esteve parado. Só em 1927, depois de entregue à Carris, voltou a percorrer a íngreme calçada, mas desta vez com um sistema mais seguro e novos veículos. Os bancos eram transversais e divididos em três compartimentos. Eram 10 os passageiros que viajavam sentados em género de plateia e seis de pé na retaguarda.
Hoje, com toda a segurança e conforto, pode subir-se e descer-se a calçada desde as sete da manhã até às nove da noite. Antes de subir, passeie-se pelas cores e odores do mercado da Ribeira, onde as floristas e peixeiras mostram o expoente máximo da tradição alfacinha. Uma vez cá em cima, e principalmente se o sol se estiver a pôr, é obrigatória uma paragem no miradouro de Santa Catarina, onde as esplanadas se deitam sobre um Tejo imenso. A seguir, o Bairro Alto convida a jantar num dos seus muitos restaurantes e a noite espera-o cheia de uma vida que mistura os mais diversos estilos e tendências.
Com uma nesga de Tejo ao fundo, cruzam-se para cima e para baixo os dois carros amarelos que ligam a Rua de São Paulo ao Largo do Calhariz. Ambos compõem o ascensor da Bica que salva qualquer um da dolorosa caminhada pela calçada íngreme e cheia de degraus em pedras toscas. Lá em baixo, «a rua dos eléctricos» que nos leva perto do rio. Cá em cima, a vida única que só o Bairro Alto pode oferecer.
2013-10-25