O Teatro Nacional D. Maria II é um dos edifícios com a história mais curiosa da cidade de Lisboa. Foi fundado sobre um dos espaços mais marcantes da cidade, o Palácio dos Estáus, que entretanto havia ardido e onde funcionou Casa de Despacho da Santa Inquisição, onde haviam estado presos Damião de Góis e António José da Silva, o Judeu, dramaturgo notável cujas peças, como As Guerras de Alecrim e Mangerona, por ironia das ironias aqui viriam um dia a ser representadas.
A revolução liberal e o fim da guerra civil haviam criado um clima propício a um desenvolvimento das Artes em geral e das Artes do Espectáculo em particular, em Portugal. Em 1836 Almeida Garrett era, por portaria assinada pela rainha D. Maria II, encarregado de pensar a criação de um Conservatório Geral de Arte Dramática e paralelamente "... sem perda de tempo, de um plano para a fundação e organização de um Teatro Nacional, o qual, sendo uma escola de bom gosto, contribua para a civilização e aperfeiçoamento moral da nação portuguesa ...". O espaço escolhido para esta colossal tarefa foi o mais nobre da cidade, o topo norte da Praça D. Pedro IV, o Rossio. Projectado por Fortunato Lodi e onde colaboraram alguns artistas como Assis Rodrigues e António Manuel da Fonseca, foi construído no estilo neoclássico e incorporou no seu pórtico as monumentais colunas que antes serviam de fachada ao grande convento de São Francisco da cidade, onde hoje está alojada a Faculdade de Belas Artes, que havia ruído com o terramoto.
Abriu as portas no dia 13 de Abril de 1846, data em que se comemorava o aniversário da rainha que lhe daria o nome. A acústica não era das melhores, houve uma pateada monumental e o teatro teve que fechar logo no dia seguinte para obras. Abriria uns anos mais tarde, com notável sucesso. A sua exploração seria entregue a empresários privados, por concurso público ao qual concorriam companhias de artistas. Destas a que mais tempo esteve à frente do teatro foi a célebre companhia Amélia Rey Colaço / Robles Monteiro, que o dirigiu entre 1929 e 1964, no que foi um período de ouro da casa, com a apresentação de magníficos espectáculos e onde, a par de conceituados artistas, fizeram o seu debute alguns dos actores que ainda hoje pontuam a cena teatral portuguesa, como João Mota, que aí se estreou como profissional, ou Eunice Muñoz.
No final de Novembro de 1964 estreava-se a peça Macbeth de William Shakespeare, tendo por actriz principal, no papel de lady Macbeth, a actriz Mariana Rey Monteiro. Uma estranha superstição, ou melhor uma maldição, pesa sobre os teatros que encenam esta peça. Cumprindo a tradição e passada uma semana da primeira récita, no dia 1 de Dezembro, arderia o Teatro, ficando apenas de pé as paredes exteriores, desaparecendo para sempre as belíssimas pinturas de Columbano Bordallo Pinheiro. Sofrendo um moroso trabalho de restauro reabriria em 1978. Desde esta data muitos têm sido os espectáculos que por esta casa têm passado, aqui sendo representados os dramaturgos de referência, quer do passado, quer da contemporaneidade, encenados pelos magos do Teatro de hoje.
No presente o Teatro D. Maria II não se restringe a uma mera sala de espectáculos. Além da majestosa sala Garrett tem uma sala mais pequena e o salão nobre está também transformado em teatro-estúdio, abrangendo um universo de actividades, saindo mesmo, muitas vezes, das suas vetustas paredes. Explora no presente o Teatro Vilarett, tem um protocolo com o Teatro da Politécnica, onde também estreia os seus espectáculos, faz itinerâncias por todo o país, acolhe festivais nacionais e internacionais, sendo ainda de referir que a sua biblioteca tem um acervo documental fundamental para se fazer a História do Teatro em Portugal. Mas há que não esquecer a sua livraria temática, onde se encontram algumas pérolas do teatro contemporâneo como os textos de Eric-Emmanuel Schmitt, ou o Café Garrett a funcionar junto ao foyer do teatro, com uma extensão sob o frontão voltado para o Rossio, uma das explanadas com melhor localização da cidade de Lisboa.
Está pois na altura de ir conhecer o Teatro D. Maria II e ver um bom espectáculo.
2007-11-30
O Teatro Nacional D. Maria II é um dos edifícios com a história mais curiosa da cidade de Lisboa. Foi fundado sobre um dos espaços mais marcantes da cidade, o Palácio dos Estáus, que entretanto havia ardido e onde funcionou Casa de Despacho da Santa Inquisição, onde haviam estado presos Damião de Góis e António José da Silva, o Judeu, dramaturgo notável cujas peças, como As Guerras de Alecrim e Mangerona, por ironia das ironias aqui viriam um dia a ser representadas.
A revolução liberal e o fim da guerra civil haviam criado um clima propício a um desenvolvimento das Artes em geral e das Artes do Espectáculo em particular, em Portugal. Em 1836 Almeida Garrett era, por portaria assinada pela rainha D. Maria II, encarregado de pensar a criação de um Conservatório Geral de Arte Dramática e paralelamente "... sem perda de tempo, de um plano para a fundação e organização de um Teatro Nacional, o qual, sendo uma escola de bom gosto, contribua para a civilização e aperfeiçoamento moral da nação portuguesa ...". O espaço escolhido para esta colossal tarefa foi o mais nobre da cidade, o topo norte da Praça D. Pedro IV, o Rossio. Projectado por Fortunato Lodi e onde colaboraram alguns artistas como Assis Rodrigues e António Manuel da Fonseca, foi construído no estilo neoclássico e incorporou no seu pórtico as monumentais colunas que antes serviam de fachada ao grande convento de São Francisco da cidade, onde hoje está alojada a Faculdade de Belas Artes, que havia ruído com o terramoto.
Abriu as portas no dia 13 de Abril de 1846, data em que se comemorava o aniversário da rainha que lhe daria o nome. A acústica não era das melhores, houve uma pateada monumental e o teatro teve que fechar logo no dia seguinte para obras. Abriria uns anos mais tarde, com notável sucesso. A sua exploração seria entregue a empresários privados, por concurso público ao qual concorriam companhias de artistas. Destas a que mais tempo esteve à frente do teatro foi a célebre companhia Amélia Rey Colaço / Robles Monteiro, que o dirigiu entre 1929 e 1964, no que foi um período de ouro da casa, com a apresentação de magníficos espectáculos e onde, a par de conceituados artistas, fizeram o seu debute alguns dos actores que ainda hoje pontuam a cena teatral portuguesa, como João Mota, que aí se estreou como profissional, ou Eunice Muñoz.
No final de Novembro de 1964 estreava-se a peça Macbeth de William Shakespeare, tendo por actriz principal, no papel de lady Macbeth, a actriz Mariana Rey Monteiro. Uma estranha superstição, ou melhor uma maldição, pesa sobre os teatros que encenam esta peça. Cumprindo a tradição e passada uma semana da primeira récita, no dia 1 de Dezembro, arderia o Teatro, ficando apenas de pé as paredes exteriores, desaparecendo para sempre as belíssimas pinturas de Columbano Bordallo Pinheiro. Sofrendo um moroso trabalho de restauro reabriria em 1978. Desde esta data muitos têm sido os espectáculos que por esta casa têm passado, aqui sendo representados os dramaturgos de referência, quer do passado, quer da contemporaneidade, encenados pelos magos do Teatro de hoje.
No presente o Teatro D. Maria II não se restringe a uma mera sala de espectáculos. Além da majestosa sala Garrett tem uma sala mais pequena e o salão nobre está também transformado em teatro-estúdio, abrangendo um universo de actividades, saindo mesmo, muitas vezes, das suas vetustas paredes. Explora no presente o Teatro Vilarett, tem um protocolo com o Teatro da Politécnica, onde também estreia os seus espectáculos, faz itinerâncias por todo o país, acolhe festivais nacionais e internacionais, sendo ainda de referir que a sua biblioteca tem um acervo documental fundamental para se fazer a História do Teatro em Portugal. Mas há que não esquecer a sua livraria temática, onde se encontram algumas pérolas do teatro contemporâneo como os textos de Eric-Emmanuel Schmitt, ou o Café Garrett a funcionar junto ao foyer do teatro, com uma extensão sob o frontão voltado para o Rossio, uma das explanadas com melhor localização da cidade de Lisboa.
Está pois na altura de ir conhecer o Teatro D. Maria II e ver um bom espectáculo.
2007-11-30