As mulheres aqui são robustas, com rugas desenhadas pela luta diária. Acordam quando ainda todos dormem para terem prontas as suas bancas de fruta, legumes ou peixe logo cedo pela manhã. E assim se conta também a história de Rosa Gomes, uma das mais antigas vendedoras do Mercado de Alvalade Norte, que é dos mais apreciados pelos lisboetas.
Mulher do Norte, Rosa arriscou aos 23 anos o negócio da «fruta e hortaliça». Tempos idos em que pouca gente havia em Alvalade. «A vida era dura. Fazia três viagens a pé com a fruta na cabeça porque não havia transportes», recorda. No mesmo ano nascia o filho que não poucas vezes se viu sozinho em casa por causa dos atípicos horários do trabalho da mãe.
Mais tarde e com alguns tostões amealhados, Rosa passou a viajar de mota. O pequeno Vítor começava a vir no meio da hortaliça para o mercado. Já lá vão mais de 30 anos. O pequeno cresceu, estudou contabilidade e gestão, mas não virou costas ao negócio. Ainda hoje, trabalham os dois no mercado.
Os seus maiores inimigos são as grandes superfícies. São poucos os mais novos que procuram peixe, fruta e legumes frescos logo pela manhã. «O negócio agora está mau. Só cá vêm velhotes e os jovens nem sopa sabem fazer!», desabafa Vítor.
Porém, quem visitar o Mercado de Alvalade Norte logo pela manhã depara-se com grande agitação. Este é dos maiores e mais importantes mercados da cidade. «Considerado um modelo europeu», garante Rosa com o orgulho estampado no rosto. Os tectos altos e a área ampla fazem ecoar os pregões e o regatear entre vendedores e clientes. É no mínimo um deleite para os olhos a mescla de cores das bancas de fruta e legumes alinhados. E os odores misturam-se numa harmonia que convida a levar para casa os produtos frescos que só ali se encontram.
A simpatia dos vendedores não se conquista em qualquer supermercado. Com paciência, explicam aos mais urbanos e leigos de que legume se trata e para que serve. A ausência de rótulos bonitos, com todas as informações de cultivo, calorias e afins assim obriga. À moda antiga, ainda se oferecem molhos de salsa e coentros na compra de outros legumes.
Mas não só de produtos frescos se conta o dia-a-dia deste espaço. Todo o mercado é ladeado por pequenas lojas que vendem de tudo um pouco. Muitas delas pertencem a imigrantes que ali viram uma oportunidade para ganhar a vida. Roupa, malas, carrinhos de compras, flores e até roupa de cama, vende-se de tudo um pouco. Há quinquilharia sem fim nestes pequenos quadrados onde tudo parece caber, apesar do reduzido espaço.
Sem glamour, sem estética, sem a mão da arquitectura de interiores, este consegue ser dos espaços mais agradáveis e bonitos da cidade. Porque é genuíno, verdadeiro. Porque transporta o mais citadino dos citadinos para a espontaneidade do mundo rural.
Andreia Félix Coelho
Aberto de segunda a sábado até às 14h00
E aqui fica a dica Lisboa ConVida: se for às compras ao Mercado, não perca:
Restaurante Mercado de Alvalade
Banca de especiarias indianas
2008-11-01
As mulheres aqui são robustas, com rugas desenhadas pela luta diária. Acordam quando ainda todos dormem para terem prontas as suas bancas de fruta, legumes ou peixe logo cedo pela manhã. E assim se conta também a história de Rosa Gomes, uma das mais antigas vendedoras do Mercado de Alvalade Norte, que é dos mais apreciados pelos lisboetas.
Mulher do Norte, Rosa arriscou aos 23 anos o negócio da «fruta e hortaliça». Tempos idos em que pouca gente havia em Alvalade. «A vida era dura. Fazia três viagens a pé com a fruta na cabeça porque não havia transportes», recorda. No mesmo ano nascia o filho que não poucas vezes se viu sozinho em casa por causa dos atípicos horários do trabalho da mãe.
Mais tarde e com alguns tostões amealhados, Rosa passou a viajar de mota. O pequeno Vítor começava a vir no meio da hortaliça para o mercado. Já lá vão mais de 30 anos. O pequeno cresceu, estudou contabilidade e gestão, mas não virou costas ao negócio. Ainda hoje, trabalham os dois no mercado.
Os seus maiores inimigos são as grandes superfícies. São poucos os mais novos que procuram peixe, fruta e legumes frescos logo pela manhã. «O negócio agora está mau. Só cá vêm velhotes e os jovens nem sopa sabem fazer!», desabafa Vítor.
Porém, quem visitar o Mercado de Alvalade Norte logo pela manhã depara-se com grande agitação. Este é dos maiores e mais importantes mercados da cidade. «Considerado um modelo europeu», garante Rosa com o orgulho estampado no rosto. Os tectos altos e a área ampla fazem ecoar os pregões e o regatear entre vendedores e clientes. É no mínimo um deleite para os olhos a mescla de cores das bancas de fruta e legumes alinhados. E os odores misturam-se numa harmonia que convida a levar para casa os produtos frescos que só ali se encontram.
A simpatia dos vendedores não se conquista em qualquer supermercado. Com paciência, explicam aos mais urbanos e leigos de que legume se trata e para que serve. A ausência de rótulos bonitos, com todas as informações de cultivo, calorias e afins assim obriga. À moda antiga, ainda se oferecem molhos de salsa e coentros na compra de outros legumes.
Mas não só de produtos frescos se conta o dia-a-dia deste espaço. Todo o mercado é ladeado por pequenas lojas que vendem de tudo um pouco. Muitas delas pertencem a imigrantes que ali viram uma oportunidade para ganhar a vida. Roupa, malas, carrinhos de compras, flores e até roupa de cama, vende-se de tudo um pouco. Há quinquilharia sem fim nestes pequenos quadrados onde tudo parece caber, apesar do reduzido espaço.
Sem glamour, sem estética, sem a mão da arquitectura de interiores, este consegue ser dos espaços mais agradáveis e bonitos da cidade. Porque é genuíno, verdadeiro. Porque transporta o mais citadino dos citadinos para a espontaneidade do mundo rural.
Andreia Félix Coelho
Aberto de segunda a sábado até às 14h00
E aqui fica a dica Lisboa ConVida: se for às compras ao Mercado, não perca:
Restaurante Mercado de Alvalade
Banca de especiarias indianas
2008-11-01